O que aconteceu com a Americanas poderá refletir não apenas nos investidores, mas também nos colaboradores e consumidores. Entenda.
No início de janeiro, foi divulgado que a Americanas havia encontrado uma inconsistência contábil na casa dos R$ 20 bilhões. A notícia surpreendeu os brasileiros, mas o passar dos dias revelou que a inconsistência é na verdade um rombo muito maior.
O valor da dívida da Americanas está girando em torno de R$ 42,5 bilhões, preocupando investidores e credores. Durante o mês de janeiro, as ações da gigante do varejo brasileiro chegaram a cair 94,08%, custando R$ 0,64.
O que aconteceu com a Americanas?
Para entender o que aconteceu com a Americanas, os especialistas estão utilizando o conceito de risco sacado. Na prática, esse é um tipo de financiamento, no qual a empresa contrata um banco para pagar antecipadamente os fornecedores.
Sendo assim, a Americanas possuía uma certa dívida de financiamento com diferentes instituições financeiras e deveria pagar com juros. O problema é que os valores a serem pagos começaram a ser incompatíveis com o balanço da empresa.
Além disso, a empresa informou ter R$ 800 milhões em caixa, o que enrijeceu o pedido de recuperação judicial — que foi feito no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A justiça concedeu ainda a suspensão da execução antecipada de dívidas por 30 dias.
Como a dívida da Americanas impacta o mercado de trabalho?
O que aconteceu com a Americanas pode afetar também os empregos dos colaboradores. Entretanto, em um primeiro momento, a companhia nega demissões por conta da dívida. Em nota enviada à Folha de São Paulo, a empresa afirma não ter começado nenhum processo de demissão de funcionários.
Quando questionada, a companhia informou que “apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados”. De todo modo, o economista Pedro Neves afirma que esse provavelmente será um caminho tomado muito em breve.
“Acredito sim que vai haver muitas demissões na empresa justamente pela questão de fluxo de caixa. Como eles vão ter agora muita dificuldade para pagamentos, o primeiro passo vai ser de fato cortar custos e despesas”, avalia.

Contudo, ainda que seja um cenário de incerteza, nem todos os cargos e vagas poderão ficar na mira das demissões. Afinal, para manter as atividades, a empresa terá de manter um quadro de funcionários ativos.
Para Pedro, avaliando o que aconteceu com a Americanas, as demissões são o cenário menos danoso ao mercado de trabalho. Estima-se que a gigante do varejo empregue cerca de 45 mil funcionários diretos e indiretos.
“Eu acredito que seria muito mais nocivo, se não houvesse demissões e a empresa viesse a fechar de fato. Porque aí você não perderia apenas os empregos gerados diretamente, mas também os indiretos como fornecedores e empresas que têm alguma ligação com a Americanas”, pontua o economista.
Como a crise da Americanas afeta o consumidor?
Já para os consumidores, uma dúvida que tem sondado o momento é como deve ficar o preço dos produtos. Porém, Pedro aposta que pressionar o bolso dos clientes não deve entrar na lista de estratégias dos empresários.
“O mercado agora vai reagir tentando abocanhar a fatia de mercado da Americanas. Como ela está agora numa situação muito difícil, ela vai tentar manter os preços de forma que sustente alguma margem positiva para sair do aperto”, considera.
E embora a margem de lucro possa ficar um pouco maior para tentar driblar o momento, o acréscimo não deve ser alto. Pois, o especialista destaca que a competitividade do varejo tende a puxar os preços para um patamar razoável.
“Esse setor de varejo é muito competitivo, se aumentar o preço, o concorrente reduz. Então, as varejistas, até mesmo as virtuais, Magazine Luiza e outras empresas querem competir não só com a Americanas, mas entre elas”, explica Pedro.
Qual deve ser o futuro da Americanas?
O que aconteceu com a Americanas, apesar de tudo, não deve ser o fim. Mesmo com a crise, considerada uma das maiores do país, o mercado ainda espera reverter a situação, segundo o economista.
“É uma empresa muito grande no Brasil, muito antiga e muito relevante. São cerca de 45 mil empregos gerados, então isso já seria um grande prejuízo para a sociedade se houvesse o fechamento da empresa”, observa.
“E além disso ainda existe a relevância dos acionistas controladores, como o Jorge Paulo Lemann, por exemplo, que é um dos homens mais ricos do Brasil. Não só ele, mas os demais sócios também são pessoas muito respeitadas e conceituadas”, ressalta Pedro.

Todavia, para o médio e longo prazo, o especialista aconselha que os investidores redirecionem os aportes para outras companhias. Visto que, as ações da Americanas já não são lucrativas, tampouco confiáveis.
“O mercado precificou muito bem a ação desde que houve o anúncio da crise, a ação já caiu mais de 90%. Então a gente vê que de fato as ações não valem mais nada. E como ela não vale mais nada, na prática, eu acredito que, no futuro, possam vir até a fechar o capital”, diz.
“A melhor opção para quem ainda é investidor seria zerar com o restante do recurso que conseguir resgatar. A credibilidade da empresa simplesmente foi para o lixo e não é uma empresa que deve ser novamente recomendada por ninguém do mercado.”
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