Economista Manoel de Arruda explica quais fatores devem ser analisados para definir expectativas para os próximos meses.
Apesar do varejo, atacado e indústria terem apresentado um crescimento conjunto de 33% em junho, em relação ao mesmo período de 2020, a economia alagoana vivencia uma lenta fase de recuperação e o desempenho do segundo semestre deverá depender do comportamento do índice de desemprego. É o que avalia o economista-chefe da SG Capital, Manoel de Arruda.
“A melhora efetiva do comércio no segundo semestre está condicionada a melhora nos indicadores de emprego, principalmente na capital e municípios com maior nível de produção”, analisa.
Os dados de junho são da Secretaria de Estado da Fazenda de Alagoas (Sefaz-AL) e indicam que o setor atacadista teve um crescimento nominal — isto é, sem descontar o percentual da inflação — de 29% no período avaliado. Enquanto isso, o varejo cresceu 33% e a indústria teve aumento de 38%.
No entanto, segundo Manoel, apenas esses resultados não são suficientes para entender o cenário econômico atual do estado.
Isso porque, o crescimento do comércio, compreendido pelo atacado e varejo, está diretamente condicionado a fatores como o crédito das famílias e a taxa de desemprego da região.
O economista destaca que o recente crescimento do comércio coincide com o aumento do endividamento da população. Isso significa que a renda dos alagoanos está muito mais comprometida com dívidas, limitando a liberdade financeira das famílias.
Endividamento e desemprego
No início do primeiro semestre, ao passo que as operações de crédito subiram cerca de 60%, o endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional subiu igualmente em comparação à renda acumulada.
Esse comprometimento com dívidas e o aumento da procura pelas operações de crédito pode ser influenciado pela alta taxa de desemprego que ainda afeta o estado.
No primeiro trimestre de 2021, Alagoas apresentou o quarto pior índice de desemprego no Nordeste, cerca de 20%, como revelou pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já nas cidades do interior, onde a capacidade de produção é consideravelmente menor, os comerciantes dependem dos recursos e auxílios repassados pelo governo federal e distribuídos pelas prefeituras.
Ou seja, quanto mais organizadas forem as finanças locais dos municípios em relação a distribuição de recursos, melhor poderá ser o desempenho do comércio nos próximos meses do ano, de acordo com o economista.
Crescimento industrial sazonal
Por outro lado, a indústria deve apresentar uma elevação sazonal do faturamento, isto é, uma tendência de crescimento da receita gerada durante o segundo semestre.
“Outro fator que sugere esse aumento para o restante do ano é a melhora das expectativas dos empresários do setor estar superior ao início do ano, corroborando com a melhora das expectativas do mercado”, salienta Manoel de Arruda.
De abril a julho, a confiança do empresário aumentou aproximadamente oito pontos, alcançando a marca de 62 pontos em uma escala de 100.
Enquanto isso, a confiança do consumidor também apresentou ligeiro crescimento de dois pontos entre maio e junho. Os dados são de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo os dados da Sefaz, em junho deste ano, a fabricação de cloro e álcalis cresceu 337%, a fabricação de açúcar aumentou 101% e a fabricação de produtos químicos subiu cerca de 64%, todos comparados a mesma época de 2020.
O crescimento ocorrido antes mesmo do período sazonal previsto aumenta a expectativa de que o setor continue prosperando ao longo do segundo semestre.