Especialista aponta erros mais comuns e dá dicas para quem deseja fazer a transição.
Seja por insatisfação na área ou vontade de ter o próprio negócio, cada vez mais pessoas cogitam a ideia de mudar de carreira. Apesar disso, muitos acabam desistindo por não saber por onde começar, enquanto outros se arriscam e cometem erros comuns na transição.
De acordo com o economista e assessor de investimentos, Guilherme Lages, um dos erros mais cometidos por quem planeja mudar de carreira é não ter uma reserva de emergência, que traz segurança financeira em diversos aspectos.
“A gente precisa ter essa reserva para qualquer imprevisto, qualquer situação que fuja do nosso controle. O principal erro é não se programar para isso, em termos de ‘minha receita vai acabar, quanto tempo eu consigo ficar sem essa receita mantendo os meus custos?'”, destaca.
Outro erro apontado por Lages é a falta de clareza que as pessoas têm em relação ao próprio orçamento, não sabendo exatamente como são suas despesas.
“As pessoas não sabem com muita clareza onde gastam, como gastam, e quanto gastam. Então o primeiro passo é ter essa clareza do orçamento, quanto de fato eu preciso para me manter durante um mês, seis meses, durante esse período que eu vou passar procurando me realocar no mercado”, completa o economista.
O que devo fazer para mudar de carreira sem me preocupar?
Uma das dicas do economista para quem está querendo mudar de área é saber bem o que se quer, o que está buscando, além de refletir sobre as próprias habilidades e sobre o que a pessoa se sente bem fazendo.
Já na questão financeira, Lages traz o conceito de empregabilidade para aconselhar quem deseja sair de uma carreira para outra, mas continuar trabalhando para terceiros.
“O principal fator é ter condições de se manter durante um tempo, enquanto se está buscando essa realocação. O conceito que eu trago é de empregabilidade, ou seja, tem que avaliar muito bem qual é a nossa capacidade de arrumar um emprego, e isso vai depender da sua área de atuação, da sua experiência no currículo, da sua capacitação. Quanto mais empregabilidade você tem, menor vai ser o tempo que vai levar para você se realocar no mercado de trabalho, e consequentemente, menor vai ser a sua necessidade de reserva para se manter durante esse período”, explica.
Ainda segundo Lages, as pessoas costumam estimar de maneira errada os gastos, e, consequentemente, não saber quanto é necessário ter na reserva para calcular por quanto tempo o dinheiro guardado irá conseguir cobrir as despesas pessoais ou familiares.

“Eu bato muito nesse ponto, porque de fato você só conhece o seu orçamento quando você bota isso no papel ou na planilha, para fazer a gestão desse orçamento. A gente costuma estimar de maneira errada os nossos gastos, a gente não sabe de fato, a gente acha que sabe até colocar no papel e ter uma clareza maior sobre eles. Constitui primeiramente dimensionar a reserva e saber quantos meses essa reserva vai me cobrir enquanto eu tiver sem essa renda”, ressalta o economista.
Outro ponto abordado por Lages, mesmo sendo difícil, segundo o próprio assessor, é fazer uma estimativa de quanto tempo deverá levar para a pessoa se realocar no mercado de trabalho.
“A título de exemplo, para essa reserva de emergência, a gente costuma dimensioná-la baseada no gasto básico mensal das famílias e multiplicar por 12. Ou seja, você vai ter uma segurança ali de 12 meses, caso aconteça algum imprevisto, caso você perca o emprego, enfim. No nosso caso aqui, é uma estimativa difícil, obviamente, mas que deve ser feita. Não é pelo fato de ser dificil estimar que a gente não vai tentar estimar. Você tem que ter ali 6 meses, 4 meses, a depender do seu caso, de despesas cobertas por essa reserva”, completa.
Assim, a pessoa poderá ficar muito mais segura para largar o emprego e procurar a atividade desejada, de acordo com o economista.
É possível mudar de carreira sem me planejar?
De acordo com Lages, é possível, caso a pessoa tenha uma empregabilidade muito boa, ou dependendo da área, como a de tecnologia. Outra questão levantada pelo assessor, foi no caso da pessoa já ter um patrimônio construído, uma boa reserva.
Tirando esses dois fatores, o economista não recomenda tentar a sorte sem se organizar para a mudança.
“Você ser a pessoa certa, no lugar certo, e tem uma pessoa ali procurando justamente o seu perfil para aquela vaga que você busca. Não é recomendado contar com a sorte. Quem não se planeja, quem não pensa nessa reserva de segurança, que é para tudo, acaba contando com a sorte e, enfim, e acaba tendo problemas financeiros”, alerta.
Consigo fazer a transição enquanto ainda trabalho?
Isso pode depender do vínculo empregatício que a pessoa tem. Entretanto, para Guilherme Lages, a estratégia seria a mais interessante a se fazer, já que não será necessário depender de uma reserva por não ter corte de receita:
“Se a pessoa conseguir se manter empregada e, em paralelo, for desenvolvendo nessa nova área, nesse novo emprego, é muito interessante, porque você não teria o corte na renda, você continua gerando renda enquanto tenta essa realocação”.
Como exemplo, o economista cita casos de pessoas que trabalham no setor público e desejam empreender, fazendo as duas atividades ao mesmo tempo, em horários distintos.
“Isso é bastante comum, e para os momentos iniciais é interessante, porque você tem aquela segurança da renda, e obviamente à medida que o negócio vai crescendo, vai te demandando mais, você tem que escolher para onde você vai. Então é possível sim, mas dependendo do vínculo atual que você tenha. Em dado momento você vai ter que, de fato, despender toda sua energia no projeto que você está buscando”, salienta Lages.

E se eu quiser montar meu próprio negócio, o que devo fazer?
O primeiro passo seria conhecer bem o produto ou serviço que será ofertado. As dicas que Lages dá para quem deseja se tornar empreendedor são: se capacitar na nova área e elaborar um plano de negócios.
“A depender da complexidade do negócio, do tamanho do investimento, você vai precisar de um auxílio de um profissional. Mas o plano de negócio é um documento que vai atestar a viabilidade do seu negócio, e que você vai documentar ali todos os riscos, todos os elementos que precisa ter dentro do negócio. Estimativa das receitas, das despesas, quadro de funcionários, análise de mercado, qual a sua necessidade de capital de giro. Então, ter um plano de negócio, sem dúvida é o passo inicial para quem vai empreender”, recomenda.
Ainda de acordo com o assessor, existem diversas plataformas e auxílios gratuitos ofertados pelo Sebrae ou outros órgãos, mas, dependendo da complexidade do negócio, é necessário contratar uma consultoria, um outro profissional, para auxiliar no serviço e evitar problemas futuros.