Especialista alerta sobre ofertas de ganhos fartos no curto prazo e dá dicas para consumo de informações seguras.
Até junho deste ano, os influenciadores digitais da área de investimentos somavam um público de 74 milhões de seguidores no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Isso equivale a 22 vezes a população de Alagoas.
Esse número revela o ‘boom’ que presenciamos todos os dias ao acessar as redes sociais: a internet tem sido fonte de informação para um amplo número de pessoas, inclusive as que buscam equilibrar a saúde financeira e aprender a investir.
O que muitos não percebem é que a rede mundial de computadores também tem suas armadilhas quando se diz respeito a informar sobre finanças pessoais e investimentos.
Novatos podem ser influenciados a agir de maneira errada no mercado financeiro, prejudicando o planejamento pessoal em busca de resultados imediatos que não se solidificam.

Para o economista e assessor de investimentos Guilherme Lages, embora a popularização das discussões sobre educação financeira e o interesse crescente do público em investir sejam bastante promissores, é preciso ter cautela para não correr riscos na hora de aplicar o seu dinheiro com base em orientações vindas da internet.
A seguir, acompanhe a entrevista completa com o especialista e confira as principais orientações sobre o tema:
Como você enxerga o processo de transformação da educação financeira nos últimos anos?
Guilherme Lages: Não posso deixar de ficar contente com o aumento do interesse do brasileiro por temas como finanças pessoais, bolsa de valores e economia.
Nos últimos anos, tivemos avanços significativos na conscientização da importância da educação financeira na vida das pessoas – algumas condições estruturais, como a queda da taxa básica de juros brasileira, favoreceram esse processo.
Porém, é preciso ter a capacidade de distinguir o bom conteúdo de algumas armadilhas que encontramos na internet – que não são poucas. A dificuldade de filtrar informações no mundo atual não é diferente na área financeira.
O principal “problema” da educação financeira é que os principais ganhos são sentidos no médio/longo prazo. Não existe enriquecimento fácil ou mudança imediata no padrão de vida.
Por outro lado, os resultados imediatos são devastadores ao ser “influenciado” a agir de maneira errada no mercado financeiro. E, infelizmente, isso é mais comum do que imaginamos.
Aqui é fundamental distinguir o que chamamos de educação financeira de meramente investimentos. Ter educação financeira é saber lidar com seu dinheiro, é ter atitudes e decisões coerentes com os seus objetivos de vida e futuro financeiro.
Aprender sobre investimentos, operações no mercado e buscar grandes retornos não deve ser um fim em si mesmo, mas sim parte de um processo alinhado com o seu planejamento financeiro.
Para os assessores, quais desafios surgiram com o boom dos conteúdos de investimentos tratados nas redes sociais por influenciadores?
Guilherme Lages: Para o bom assessor, quanto mais bem informado é o cliente, melhor. O desafio é lidar com a desinformação, quando se tem o foco em ganhos de curto prazo, retornos imediatos.
Quando se foca exclusivamente no produto e seu desempenho, as pessoas correm riscos elevados sem se dar conta.
Vale lembrar que as assessorias de investimento são grandes responsáveis pela popularização de conteúdos de investimentos.
O desenvolvimento do mercado financeiro está estritamente correlacionado com o desenvolvimento econômico e social de um país ou região. O mercado de capitais e de crédito são fontes importantes de captação de recursos para empresas e, quanto mais agentes superavitários (investidores) dispostos a entrar nesses mercados, mais empresas poderão fazer parte do jogo.
Como os investidores podem garantir estar recebendo uma orientação de qualidade através da internet?
Guilherme Lages: O caminho mais seguro é também o mais óbvio, porém, o não mais traçado: buscar profissionais com experiência e qualificação, aqueles que realmente atuam na área e são certificados para o exercício.
Para citar alguns: planejador financeiro, assessor de investimento e consultor de valores mobiliários.
Quais os sinais de alerta para os novos investidores que têm a internet como maior fonte de informação?
Guilherme Lages: Além dos requisitos de experiência e qualificação, deve-se buscar compreender como o influenciador monetiza seu conteúdo.
Os anúncios de ganhos fartos no curto prazo são muito sedutores e estão em toda parte na internet, levando a análises incompletas das variáveis envolvidas e induzindo o investidor a erros que podem levar a perdas permanentes – incorrendo em riscos desnecessários.
Os novos investidores devem, inicialmente, analisar sua situação financeira atual e traçar um planejamento com objetivos e metas futuros – e buscar tão somente atingi-los. Qualquer conteúdo digital que não coloque isto como ponto de partida deve ser descartado.